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ARTROSE

 

artrose

O QUE É A ARTROSE?

Numa articulação normal, as extremidades dos ossos que a compõem, estão cobertos por um tecido de revestimento, constituído por material duro-elástico esbranquiçado, a cartilagem, que permite o deslizamento suave dos ossos e que actua como uma almofada, absorvendo as forças do impacto no movimento e em particular na carga.

Os ossos de uma articulação são mantidos em posição adequada pelos ligamentos, músculos e tendões, possibilitando-lhes consequentemente os movimentos normais. Estas estruturas são determinantes na manutenção da estabilidade da articulação, em associação com uma cápsula fibrosa envolvente, no interior da qual uma fina membrana, designada sinovial, produz permanentemente uma adequada quantidade de líquido sinovial, que actua como lubrificante e nutriente da cartilagem.

A cartilagem articular é um tecido que está dependente de um fenómeno complexo de deterioração e reparação, que apesar de ser muito lento, está sempre presente em cada instante na articulação.

A artrose é uma das doenças mais frequentes na espécie humana e um factor importante na perda da função no indivíduo.
Em graus variados de evolução, afecta uma percentagem com significado da população depois dos 45 anos, embora só nalguns casos atinja a gravidade suficiente para apresentar sintomatologia e alteração morfológica e funcional articular. A frequência da artrose aumenta de modo significativo com a idade. Envolve cerca de 20% da população aos 45 anos e quase 100% aos 80 anos.

A artrose é uma doença natural caracterizada por um processo evolutivo que resulta da senescência e consequente deterioração progressiva dos tecidos que compõem a articulação, em particular da cartilagem, conduzindo à instalação lenta e progressiva de dor, à deformação, à limitação da mobilidade e à perda da função articular.

É a expressão do nosso envelhecimento a nível articular.

No estabelecimento da artrose, começa por ocorrer uma deterioração da cartilagem - doença da cartilagem - que vai perdendo a sua elasticidade e regularidade de modo focal, diminuindo assim a sua eficácia. A subsequente degradação adicional com o uso repetido, em particular sob sobrecarga mecânica e ou ponderal, leva-a a um processo irreversível de recuperação. A inflamação secundária na dependência da membrana sinovial, que acaba por se lhe associar, progride para as estruturas adjacentes e deteriora-as progressivamente.

Com a evolução natural deste processo ao longo do tempo, parte da superfície articular da cartilagem pode com maior ou menor extensão, desagregar-se. Assim e na ausência de parte da "almofada" da cartilagem, as extremidades dos ossos passam a roçar directamente entre si, causando sensação de atrito ( crepitação ), em associação a um constante grau de inflamação, dor e limitação dos movimentos.

Em fase evolutiva bastante mais avançada, pequenos fragmentos da cartilagem podem soltar-se para o interior da articulação, bem como a morfologia e a arquitectura do osso subjacente deteriorar-se e limitar ou mesmo bloquear os seus movimentos. Por outro lado, as estruturas de contenção passiva da articulação, como a cápsula articular e os ligamentos, colocadas sob tensão excessiva, podem-se inflamar, retrair ou mesmo romper, o que condiciona à articulação níveis de incongruência e de redução de amplitude de movimento.

QUAIS SÃO AS ARTICULAÇÕES MAIS ENVOLVIDAS?

Todas as articulações podem ser envolvidas pela artrose. Contudo, as ancas, os joelhos, os tornozelos, a coluna (articulações de carga), os ombros, são de longe as mais frequentemente envolvidas, particularmente devido ao esforço a que são sujeitas. Articulações como os cotovelos, os punhos, as mãos e os pés, são menos frequentemente atingidas, a não ser como consequência de sequelas de traumatismos ou de determinadas doenças gerais.

QUEM CORRE MAIS RISCO DE VIR A SOFRER DE ARTROSE?

De uma maneira geral, a artrose é mais frequente e mais agressiva no sexo feminino.

Ainda os obesos e uma vez que a obesidade constitui um importante factor de risco, sobretudo para o joelho e para a anca, sendo a relação menos clara para a artrose da coluna, apesar da obesidade aumentar os níveis da sintomatologia álgica nesta área anatómica.

Algumas profissões com particulares exigências físicas, têm também maior tendência a desencadear processos de artrose, sendo esse o caso dos operários da industria têxtil em relação às mãos (rizartrose) e coluna lombar, dos trabalhadores rurais relativamente à anca e joelho e dos da industria de construção civil na artrose do joelho e do ombro.

Por outro lado e em particular nos desportistas, todos os traumatismos articulares podem aumentar o risco de desenvolvimento de artrose, particularmente nos processos com fracturas que atinjam as superfícies articulares ou como no caso do joelho com a rotura do ligamento cruzado anterior ou dos meniscos.

Finalmente salienta-se o facto da doença ter alguma dependência hereditária, particularmente nas formas de envolvimento poliarticular.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS SINTOMAS?

O sintoma inicial e predominante na artrose é a dor articular.

Em regra, tem um inicio insidioso e progressivo e na sua forma mais característica, é desencadeada principal ou até exclusivamente, pelo movimento ou uso excessivo da articulação, acabando o repouso por a atenuar ou a fazer desaparecer.

No entanto alguns doentes poderão sentir dores mesmo em repouso, sendo normal observar-se igualmente um aumento da dor após longos períodos de repouso. O doente tem, por exemplo, alguma dificuldade em levantar-se depois de ter estado sentado bastante tempo, situação que surge acompanhada de rigidez articular (articulação presa) e que cede em alguns minutos, após o movimento.

A dor localiza-se normalmente em torno da articulação atingida, podendo por vezes, ser sentida a alguma distância. Por exemplo, a artrose da anca pode desencadear dor na face posterior e lateral da nádega, na coxa ou mesmo na proximidade do joelho (10 % destes doentes, apenas sentem dor na face interna do joelho). A dor sentida a subir ou descer escadas, é particularmente vulgar na artrose do joelho e dependente do compartimento femuro-patelar. A artrose da coluna é uma das causas mais comuns de dor no pescoço e na região lombar (lombalgia). A dor articular leva o doente a evitar gradualmente o uso da articulação, dai resultando um enfraquecimento dos músculos satélites e consequentemente a uma maior instabilidade, que vai contribuindo para o agravamento progressivo da deformação.

Note-se que nas articulações mais superficiais, como nos joelhos e nos dedos, podem apresenta-se deformações, mesmo em fases muito precoces da doença. Com a evolução no tempo, a articulação poderá mostrar limitação de movimentos, mesmo na ausência já de dor.

QUAL O TRATAMENTO DISPONIVEL PARA A ARTROSE?

É despropositada a ideia, que ainda está muito enraizada no público e até em muitos profissionais da saúde, de que para artrose e para o sofrimento álgico que lhe está associado, já que sendo uma consequência inevitável do nosso envelhecimento, nada há a fazer para além de se ter que suportar a dor e assistir á gradual deformação articular.

É verdade que não existem tratamentos médicos que permitam inverter ou parar em definitivo um processo de artrose. No entanto e embora não haja “ tratamento para curar a artrose “, a adequada elaboração para cada doente, de um protocolo terapêutico, permite-nos hoje diminuir ou mesmo corrigir, alterações da troficidade e da morfologia articulares e consequentemente aliviar os sintomas, bem como prolongar no tempo a capacidade funcional e logo, a qualidade de vida.

Um protocolo terapêutico, com a inclusão de exercício físico regular como a hidroginástica ou a natação, de utilização de uma alimentação saudável e decontrolo do peso, de balneoterapia termal, de correcção de posturas, de ergonomia, de fisioterapia e recuperação funcional, de medicamentos e cirurgia, deverá ser sempre adaptado a cada caso particular e tendo em consideração a gravidade da situação, o número de articulações afectadas, a natureza dos sintomas, a idade, a ocupação, as actividades diárias e a “ alegria de viver do doente “. Para além disso a colaboração informada dos doentes, é também e só por si, uma condição essencial para o sucesso de qualquer programa terapêutico.

EXERCÍCIO FÍSICO

Um programa de exercício físico diário é fundamental no controlo da evolução da artrose. O programa de exercícios deve ser adaptado a cada doente. Sem ele, as articulações tendem a ficar mais dolorosas e rígidas, os ossos menos flexíveis e menos resistentes, os músculos mais debilitados.

A prática diária no domicílio de 10 minutos de bicicleta estática, sempre em regímen de “ roda livre “, proporciona benefício consistente na artrose da anca, joelho e tornozelo. A marcha ou a ginástica em piscina de água tépida, com flutuador, idem. As sessões de marcha “ compulsiva “ hoje tão preconizadas pelos cardiologistas e generalizadas, estão formalmente contra-indicadas nos doentes com lesões degenerativas nos membros inferiores. Em compromissos funcionais de maior significado, em particular a nível da coluna vertebral, sugerimos por vezes o recurso a um centro de recuperação, para ensino do doente das práticas a desenvolver.

MEDICAÇÃO

Actualmente dispomos de uma razoável variedade de medicamentos capazes de aliviar os sintomas da artrose e de melhorar a qualidade trófica da cartilagem.

Os analgésicos simples como o paracetamol, são na grande maioria dos casos, suficientes para garantir um alívio eficaz da dor e são geralmente muito bem tolerados.

Os anti-inflamatórios, como o naproxeno, são por vezes necessários, apesar de poderem acarretar alguns riscos secundários maiores do que os analgésicos, em particular para o estômago. Ajudam a controlar a dor, a rigidez e o inchaço das articulações. Alguns dos medicamentos disponíveis em Portugal, ditos de acção prolongada, como o cetoprofeno e a indometacina, têm a capacidade de manter as articulações livres de compromisso álgico de forma mais prolongada no tempo. Os derivados da cortisona, administrados por via geral estão formalmente contra-indicados na terapêutica da artrose. Contudo, a injecção de alguns destes produtos (efectuada exclusivamente por um médico especialista) em estruturas dolorosas na vizinhança de uma articulação, pode ser extremamente eficaz na melhoria da dor e da rigidez articular.

Complementarmente a utilização de determinadas substâncias com função de condroprotecção, por ingestão oral como o sulfato de glucosamina na dose diária de 1,5 gramas ou o sulfato de condroitina na dose diária de 800 a 1000 mg, quer por injecção intra-articular, viscosuplementação com o ácido hialurónico, com uma dose semanal, pode melhorar com significado a sintomatologia e até mesmo recuperar algumas áreas com doença da cartilagem.

CIRURGIA

Presentemente a terapêutica cirúrgica da artrose, disponibiliza para as fases intermédias da doença da cartilagem de algumas articulações, como o joelho e o tornozelo, a cirurgia artroscópica de reparação da cartilagem.

Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, desenvolvido sempre em ambiente de cirurgia de ambulatório, mas disponível apenas em centros cirúrgicos electivos.

Para as fases evolutivas de artrose com deterioração articular mais grave, deformante e incapacitante da anca e joelho, dispomos da cirurgia artroplástica, que é um procedimento cirúrgico que utiliza um implante artificial (prótese) para substituição das estruturas osteo-cartilagineas deterioradas.

Ambos os procedimentos, pela capacidade de devolução da função aos doentes, são indiscutivelmente dos mais compensadores avanços da cirurgia ortopédica moderna.