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O OMBRO INSTÁVEL

 

Figura 1

A nenhuma outra articulação, se podem atribuir relatos históricos tão importantes, como ao ombro sendo a descrição antiga mais detalhada, atribuída a Hipócrates, o pai da Medicina e nascido em 406 A.C..

Hipócrates descreveu a anatomia do ombro, a luxação anterior e o primeiro procedimento cirúrgico para a luxação recidivante.

O ombro no seu todo, é o grupo articular mais móvel do corpo humano e bem assim também, o mais instável.

No ombro englobam-se várias articulações: Esterno-clavicular Acromio-clavicular, Sub-acromial, Gleno-umeral  e Omo-toráxica. Fig. 1

Em linguagem comum no entanto, a expressão ombro usa-se para fazer referência apenas à articulação gleno-umeral. Fig. 2

Esta importante articulação, é composta pela cabeça quase esférica do úmero e pela quase plana cavidade glenoideia, por parte da omoplata. Esta  particularidade anatómica tem o seu   “preço“, pois a reduzida congruência das duas superfícies articulares, condiciona um elevado potencial de instabilidade. A sua estabilidade é assegurada no essencial, apenas pelos tecidos moles circundantes, ligamentos e músculos.

A gleno-umeral tem uma amplitude de movimento superior a qualquer outra e deve essa qualidade, precisamente ao pouco contacto articular entre a cabeça do úmero e a cavidade glenoideia. Fig.3

Para se compreender o que se entende por instabilidade do ombro, é necessário considerar as três designações seguintes:

Sub-luxação - perda de contacto parcial da cabeça do úmero e da cavidade glenoideia.
Luxação - perda de contacto total da cabeça do úmero e da cavidade glenoideia.
Luxação recidivante - situação em que ocorrem ao longo do tempo, vários episódios de luxação.

Na  sub-luxação da gleno-umeral, a perda de contacto parcial é muitas vezes momentânea e a cabeça umeral de modo rápido e espontaneamente, volta à sua posição normal. Pelo contrário, na luxação não acontece recolocação da cabeça umeral de modo espontâneo e imediato.

A estabilidade da articulação gleno-umeral resulta da interactividade de uma hierarquia de mecanismos, em que se incluem os que não exigem dispêndio de energia, ou sejam os mecanismos passivos, que são as estruturas ósseas e fibrocartilaginosas da articulação e aqueles que exigem dispêndio de energia, ou sejam os mecanismos activos, que são os músculos peri-articulares. Sempre que há uma falha num destes mecanismos, a articulação torna-se instável, sendo a instabilidade anterior, que é o deslocamento da cabeça do úmero para a frente, a mais frequente. Cerca de 95 % das instabilidades, são anteriores.

Em algumas situações, como no caso da luxação anterior, o quadro clínico é tão característico da lesão, que o seu diagnóstico faz-se facilmente, contudo a sub-luxação da gleno-umeral, pode apresentar  formas complexas que põe problemas no seu despiste. A sub-luxação é mais comum que a luxação recidivante e a sua resolução, por vezes põe problemas difíceis, tanto ao cirurgião que a trata, como ao doente.

A instabilidade da articulação gleno-umeral apresenta formas clínicas variadas.

De um modo geral, deve-se ficar alertado para a possibilidade da existência de uma situação de instabilidade subjacente, quando um doente se queixa de ombro doloroso, sem aparente ocorrência de lesão traumática.

Esta situação é particularmente frequente entre os atletas lançadores e em todos os atletas que usam os membros superiores na prática desportiva e cujos movimentos originam a aplicação de força de fulcro, sobre a parte anterior do ombro.

A instabilidade gleno-umeral anterior, como já se mencionou é a mais frequente, mas o ombro pode ser instável em todas direcções e devido a variadas causas. Contudo a causa traumática ou microtraumática, é a maior responsável da instabilidade do ombro.

Para esclarecimento e diagnóstico da instabilidade anterior, pode ser necessário efectuar alguns exames imagiológicos, na procura da lesão da parte anterior da cavidade glenoideia e ou da cabeça umeral.

A incidência da instabilidade recidivante no atleta, é significativa e este deve ser alertado para esse facto, após o primeiro episódio. Os atletas envolvidos em modalidades desportivas de contacto físico, como o judo e artes marciais, futebol, hóquei, voleibol, andebol e basquetebol, são os mais frequentemente atingidos.

Na luxação gleno-umeral, o tratamento cirúrgico deve ser a indicação formal para o atleta, a partir do primeiro episódio, porque o risco da recidiva é muito elevado e as sequelas de cada recidiva, podem ser á distância dramáticas.

Têm também indicação formal para tratamento cirúrgico, os casos de sub-luxação gleno-umeral anterior, pois que não tratados nessa perspectiva, para além de originarem impotência funcional com relativo significado e frequência, as sequelas de tipo degenerativo são igualmente dramáticas a médio prazo. Fig. 6